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Quais os efeitos do Storytelling no nosso corpo?

Valquíria Alencar

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Quem me conhece sabe que eu trabalho com dados e que sou formada na área de biológicas. Então, hoje vou trazer uma conexão entre dois assuntos que eu curto muito: Storytelling e Neurociência. E pra começar bora entender o que é o storytelling?

O que é esse tal de Storytelling?

Sabe aquele jogo de RPG Dungeon & Dragons que aparece na série Stranger Things da Netflix?

Imagem de uma cena da quarta temporada da série Stranger Things — Divulgação/Netflix

Se você já assistiu a série ou já jogou algum RPG de mesa você deve se lembrar que é necessário interpretar, incorporar e dar vida aos personagens seguindo regras. Quem dita essas regras é a pessoa narradora, também conhecida como mestre. O papel da pessoa que está narrando é conduzir o jogo, a medida que as outras pessoas que estão jogando interpretam seus personagens e tomam decisões, baseadas na maioria das vezes através de dados multifacetados.

Imagem de dados multifacetados. Photo by Alperen Yazgı on Unsplash

Trazendo ainda mais a capacidade de Storytelling para o nosso dia-a-dia, certamente, você conhece ou já ouviu falar no Streamer Casimiro, Simplesmente o rei do entretenimento…Um dos vídeos mais vistos no canal dele no Youtube é o que ele conta sobre o dia em que saiu para comprar um novo iphone.

Pra quem nunca viu:

A narrativa acaba te prendendo muito e os 22 minutos de vídeo passam de forma muita rápida, por conta da descontração, animação e do suspense que ele cria para o desfecho da história.

Se nós pararmos para refletir nesse momento, vamos nos dar conta que a narrativa está presente em todos os tempos, em todos os lugares, em todas as sociedades. Inclusive, a narrativa começa com a própria história da humanidade. Desde as pinturas rudimentares nas cavernas até os dias de hoje.

Imagem de pinturas rudimentares. Photo by Otacilio Maia on Unsplash

Storytelling é isso: a arte de contar histórias! E quando estamos falando em Data Science, para contar uma história nós precisamos basicamente de três coisas: dados, uma narrativa e recursos visuais. A junção de tudo isso é um caminho efetivo para comunicar os insights obtidos nos nossos projetos.

Mas o que eu quero compartilhar com você hoje é que quando nós ouvimos boas histórias algumas partes do nosso cérebro são afetadas. Vamos explorar isso a seguir! 😉

Os efeitos do Storytelling no nosso corpo

Acoplamento neural

Quando uma história está sendo contada ocorre a ativação de partes do cérebro que permitem que quem esteja ouvindo consiga transformar a história em suas próprias ideias e experiências. É como se os cérebros estivessem conectados…

No artigo Speaker–listener neural coupling underlies successful communication de 2010, publicado na revista PNAS, temos um estudo de como isso acontece. Na imagem abaixo, retirada do artigo, nós temos a atividade neural de um par de pessoas, sendo uma delas a falante e outra a ouvinte durante uma narrativa. Em A temos a captura da gravação da narrativa e em B está o acoplamento neural falante-ouvinte, que foi avaliado através do uso de um modelo linear geral, no qual as séries temporais no cérebro da pessoa que estava falando são usadas para prever a atividade no cérebro da pessoa ouvinte. Esse estudo mostrou que a atividade da pessoa falante é espacial e temporalmente acoplada à atividade da ouvinte. Por conta disso esse acoplamento desaparece quando os participantes não conseguem se comunicar!

Atividade neural de um par falante-ouvinte durante a narrativa. Fonte: https://www.pnas.org/doi/10.1073/pnas.1008662107

Liberação de neurotransmissores

Além disso, quando há uma carga emocional ocorre a liberação de um neurotransmissor chamado Dopamina.

Fórmula da Dopamina. Fonte: https://br.freepik.com/vetores-premium/carater-do-orgao-cerebral-e-formula-de-dopamina-no-balao-de-fala_15436441.htm

A dopamina funciona como uma mensageira química que leva a informação de um neurônio para uma célula receptora. Ela possui várias funções e também influencia diretamente as nossas emoções. A liberação da dopamina faz com que o público consiga lembrar com maior precisão daquilo que foi falado.

Estudos já mostraram, inclusive, que histórias que são pessoais e emocionalmente atraentes envolvem mais o cérebro e, portanto, são mais bem lembradas do que simplesmente declarar um conjunto de fatos.

Fonte: https://greatergood.berkeley.edu/article/item/how_stories_change_brain

Mudança na concentração de hormônios

Você sabia que ouvir uma sessão de contação de histórias pode reduzir os níveis de estresse e dor?! Um estudo recente feito por pesquisadores brasileiros mostrou o efeito tranquilizador da narrativa em crianças internadas na UTI.

No artigo Storytelling increases oxytocin and positive emotions and decreases cortisol and pain in hospitalized children, publicado em 2021 na revista PNAS, esses pesquisadores avaliaram dois hormônios: o cortisol, que é liberado em condições estressantes, preparando o corpo para enfrentar dificuldades; e a oxitocina, que é produzida em situações de aconchego e favorece a criação de vínculos afetivos com outras pessoas. A concentração de cortisol caiu e a de oxitocina subiu duas vezes mais entre as crianças que ouviram histórias.

A atividade do córtex cerebral

Uma história que foi bem contada pode ativar regiões do cérebro como córtex motor, sensorial e frontal (Bauer, 2021).

O cérebro consiste em dois hemisférios cerebrais: a camada externa chamada córtex (substância cinzenta) e a camada interna (substância branca). Existem quatro lobos (partes) no córtex, o lobo frontal, lobo parietal, lobo temporal, lobo occipital e essas regiões estão ligadas a memória, tomadas de decisão, controle dos movimentos, reconhecimento espacial, percepção visual e diversas outras funções importantes (Jawabri & Sharma, 2022).

Então, não apenas as partes de processamento de linguagem em nosso cérebro são ativadas , mas qualquer outra área do nosso cérebro que usaríamos ao vivenciar os eventos da história também são ativadas. Por exemplo, detalhes sensoriais como a pessoa estar tão animada como se tivesse ganhado na mega-sena envolvem o córtex sensorial de uma pessoa que está ouvindo uma história. Enquanto isso, palavras de ação envolvem o córtex motor. Tudo isso faz com que a experiência seja mais conectada e deixa a mensagem mais rica. Ou seja, quanto mais a pessoa narradora transmitir informações em forma de história, mais próxima será a experiência e a compreensão de quem está ouvindo.

Os neurocientistas ainda estão debatendo sobre essas descobertas, mas nós sabemos por experiência própria que quando estamos ouvindo uma boa história (rica em detalhes e cheia de metáforas) nós tendemos a nos imaginar na mesma situação. Basta ouvir uma história de terro: O coração fica acelerado, você acaba se arrepiando...

Enquanto isso, as histórias contadas em um ambiente de negócios, como é o caso de nós que trabalhamos com dados, podem não ser tão dramáticas (ou arrepiantes), mas podem ser mais impactantes do que apenas dados. Então, no próximo artigo vou trazer alguns pontos importantes para você refletir quando for criar o seu próprio Storytelling com os seus dados.

Espero que você tenha curtido a parte biológica desse assunto tão maravilhoso.

Até mais! 💖

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Valquíria Alencar

Data Science & Analytics | Machine Learning | Python | Instrutora de Data Science na Alura